INTERVIEW MAGAZINE (09.12.2024) – Adria Arjona teve o tipo de ano do qual sonhos — e carreiras — são feitos. A atriz de 32 anos deu sequência ao seu papel fundamental em Andor do ano passado — a melhor coisa que Star Wars fez desde os anos 80 — com uma performance de tirar o fôlego no sucesso da Netflix Hit Man, mostrando sua química crepitante com o colega de elenco Glen Powell. Ela manteve a mesma energia viva na estreia de Zoë Kravitz, Blink Twice, e o resultado é uma indústria se alinhando para estar no negócio de Adria Arjona. Em seguida, a nativa de Porto Rico está lidando com um projeto mais pessoal em Los Frikis, um filme sobre um grupo de punk rockers de Cuba dos anos 90. Adria se reuniu com Glen a caminho do aeroporto para falar sobre, entre outras coisas, dar o salto para Hollywood. 

 

TERÇA-FEIRA 12:45 22 DE OUTUBRO DE 2024, MONTREAL

 

ADRIA ARJONA: Eu não sei porque estou tão nervosa! 

 

GLEN POWELL: Você não devia ficar nervosa. Isso é o que nós fazemos o tempo todo. Não tem ninguém com quem seja mais fácil brincar do que você. Onde você está agora? 

 

ARJONA: Estou no caminho para o aeroporto – eu sempre estou a caminho do aeroporto. Estou em Montreal, mas estou indo para Nova York por um dia e depois voltando. 

 

POWELL: Você ainda está gravando aquela série?

 

ARJONA: Não, estamos gravando o filme Splitsville

 

POWELL: Você está saltando de uma coisa para outra agora, isso é insano.

 

ARJONA: Eu sei. E então vou direto para o filme da A24, Onslaught. Eu talvez tenha 3 dias de folga. 

 

POWELL: Esse é o que você também está produzindo?

 

ARJONA: Os dois eu estou produzindo. 

 

POWELL: Você está se divertindo com tudo isso?

 

ARJONA: Estou me divertindo muito, especialmente porque todos são personagens muito diferentes, então acho que isso me mantém em alerta e entretida. E estou saltando entre gêneros, o que também é divertido. Fica um pouco pesado estar sempre em movimento, mas eu cresci assim, então estou acostumada. 

 

POWELL: Eu me lembro de ouvir histórias quando estávamos filmando Hit Man sobre você estar basicamente na estrada com seu pai dormindo em todos os tipos de posições e lugares. Eu também me lembro da sua energia inesgotável, mas você também tira boas sonecas. 

 

ARJONA: Eu tiro boas sonecas. Mas você facilitou isso – lembra daquele dia que eu não dormi? E eu abri a porta do meu trailer, e você tinha todos aqueles cobertores e travesseiros para eu cochilar durante o almoço? Foi muito doce. 

 

POWELL: Olha, nós trabalhamos muito, muito duro. A coisa que estou percebendo sobre esses filmes é que eles não são todos construídos da mesma forma, e se você pegar alguns em sequência que são gravados à noite, você pode cair muito rápido, mesmo se tiver muita energia. Nem todo mundo nasceu para aquele ritmo, e você está naquele ritmo agora. Você está encerrando esse projeto ou só começando? 

 

ARJONA: Estou terminando.

 

POWELL: O que você está fazendo nos seus dias de folga?

 

ARJONA: Estou treinando para meu próximo filme. Sou uma atiradora de elite, então hoje estava treinando com armas. 

 

POWELL: Badass.

 

ARJONA: Eu ainda fecho meus olhos quando aperto o gatilho. Ainda tenho muito trabalho a fazer. [Ri]

 

POWELL: Quero dizer, você vai ser letal do outro lado disso, e eu preferiria que você soubesse usar uma arma. Todos ficamos mais seguros com isso. [Ri] Eu sei que você fez filmes de ação no passado, mas provavelmente nada assim. Eu já assisti muitas coisas suas, e eu acho que não me lembro de você– 

 

ARJONA: Eu acho que já estabelecemos que você não viu muitas coisas minhas. [Ri] 

 

POWELL: Eu vi! Eu não vi uma coisa específica sua que todo mundo já viu, que é Andor, mas só isso! Desculpa, minha conta do Disney+, acho que alguém a hackeou. Vou botar a culpa na nuvem. Enfim, vamos falar sobre Los Frikis, um filme que eu assisti. É incrível, e é um papel incrível para você. Você me contou várias histórias enquanto estávamos gravando sobre experiências que você teve naquele filme. Eu nunca tinha visto nenhum daqueles atores antes, mas todo mundo está sensacional – o nível de química e profundidade. E não é um filme que vive na tristeza do HIV ou a opressão acontecendo em Cuba; tem uma alegria estranha durante. Mas o seu papel especificamente existe em seu próprio plano. Eu estava pensando em como você desenvolveu a personagem. É baseada em uma pessoa real?

 

ARJONA: Maria, minha personagem em específico, não é. Mas Los Frikis eram sim. Quando Michael [Schwartz] e Tyler [Nilson] me apresentaram o roteiro, eu me senti muito ignorante porque não conhecia a história, que eu não sabia que isso estava acontecendo tão perto de mim enquanto crescia em Miami. Eu comecei a entrar nessa espiral tentando achar mais sobre essas pessoas e esse período. Para os que não sabem, foi meio que a época sombria em Cuba. Não tinha comida, então muitas pessoas estavam tentando escapar em botes e morrendo no meio do oceano. As pessoas não podiam nem escolher os filmes que assistiam ou as músicas que escutavam. E naquela época, eles não sabiam de verdade o que era o HIV. Era quase como o começo da COVID, onde todo mundo ficou tipo, “Ah, é só uma gripe;” Então, quando a ideia de injetar HIV surgiu, era um ingresso para a liberdade dentro de seu próprio país. E quando eu entendi isso, partiu meu coração. Mas é por isso que é um filme alegre, porque é sobre a descoberta da liberdade. E quando alguém assiste o filme, a primeira coisa que diz é, “É muito engraçado.” 

 

POWELL: É verdade. 

 

ARJONA: Ninguém espera que seja engraçado. Michael e Tyler fizeram um ótimo trabalho com isso. E para eles, era realmente importante que os atores fossem de Cuba. Então todos os atores, exceto Héctor [Medina] e eu, voaram de Cuba para a República Dominicana. E eles nunca tinham saído de Cuba antes, então eu realmente pude experienciar a vida pelos olhos deles. Eu pude ver eles entrarem num supermercado pela primeira vez, tentando compreender o comercialismo. Tem muitas coisas que eu tive como certo ao longo da vida, porque fui criada no privilégio. E graças a esse filme e cada um desses atores, eles realmente me bateram com perspectiva, com quanta alegria eles tinham nas coisas simples e pequenas da vida. Tem tanta alegria em dançar. Tem tanta alegria em um pedaço de frango. Eles estão constantemente alimentando suas almas e procurando a felicidade. Então é por isso que digo que esse filme mudou a minha vida, porque essas crianças mudaram a minha vida. Eles são um lembrete de como viver pode ser simplesmente lindo. 

 

POWELL: Totalmente, esse filme é um sentimento. Quando você me contou sobre a ideia – eu também não sabia desse momento na história – eu fiquei tipo, “Por que alguém pensaria em injetar a si mesmo com HIV?” Mas o primeiro ato fez um ótimo trabalho em mostrar a falta de opções, a opressão. Enquanto eu assistia, eu fiquei tão sobrecarregado de gratitude pela minha própria liberdade. E eu literalmente falei para um amigo, assim que terminei de assistir, “Isso é o que filmes podem fazer.” Eles podem amarrar corações que tenham muito pouco em comum. Me dê o processo de como você achou algo como Los Frikis e como isso se encaixa no seu plano do que quer fazer e para onde está indo. 

 

ARJONA: Quando eu li, eu fiquei tipo, “Esse é o tipo de história que precisa ser contada.” É importante continuar a contar histórias latino americanas que não são só sobre narcotraficantes e a fronteira. Tem muito mais sobre a nossa história. E eu me apaixonei com poder interpretar uma versão diferente de uma mãe que não necessariamente tem filhos biológicos, que quer apenas cuidar de todo mundo e dividir o amor e a lux porque ela entende o que o futuro lhes reserva. E também, em Santo Domingo foi tão libertador poder retornar às minhas raízes latinas e explorar isso. Eu não sei como acontece para você, mas quando um projeto assim chega, você apenas sabe. 

 

POWELL: Eu já vi você caber em coisas de todo tamanho e alcance, e tem uma razão para todo mundo estar implorando para te ter nos filmes deles a nível de estúdio. Mas eu também acho que é refrescante assistir algo assim. Se esse filme fosse feito por um estúdio, seria completamente desprovido de coração e todas as coisas mágicas dele. É tão interessante como filmes são relâmpagos na garrafa e sobre o investimento dos atores. É um dos motivos porque adorei trabalhar com você e porque eu gostaria de fazer isso de novo e de novo pelo resto do tempo.

 

ARJONA: Sim, por favor, Glen! Você trabalha de forma similar a mim. Você tem que se comprometer com o mundo. É por isso que eu sei quando é certo e quando não é. Tem roteiros que leio e fico tipo, “Cara, isso é escrito de forma brilhante. Amei. Mas eu não sei como me colocar no meio disso.” Mas, com Hit Man, foi tipo, “Eu entendo. Eu amo. Eu quero estar nisso.” E então você vai de coração aberto, faça papel de bobo, tente coisas diferentes. A mesma coisa com Los Frikis. Eu fiquei tipo, “Eu entendo essa personagem. Eu entendo esse mundo, e eu quero muito fazer parte dele.” 

 

POWELL: Ah, eu sei, por causa da forma que você fala dele. Nas nossas carreiras, você não sabe quantos filmes ótimos vai fazer, então tentamos preencher nosso tempo com coisas que importam, e você espera que a experiência seja tão mágica quanto o produto. Mas eu acho que o que é realmente especial sobre você é o quão orgulhosa você fica de algo em que você deu muito de si. Pode ser muito desmoralizante quando você trabalha com atores que estão lá claramente pelos motivos errados, quando não tem nenhum nível de investimento. Você é o oposto. Você é uma das pessoas mais investidas que já conheci. Você esmaga seu coração no papel e é algo incrível. Mas nem todo mundo faz isso. Você aparece com um ator que fica tipo, “Yo, estou dentro e fora. Pego um avião em 2 semanas. Estou apenas esperando aquela data,” e isso pode ser tão desanimador. Mas você parece que quer estar naquele set para sempre, e essa é uma qualidade tão linda. 

 

ARJONA: Você é igual. Eu sinto que o set é o nosso lugar feliz. No final do dia, as pessoas não percebem que passamos muito tempo com essas personagens. Eles passam duas horas com elas; nós passamos três meses com elas, e com esses atores e diretores nesse mundo. Então eu me pergunto, onde eu quero estar passando o meu tempo? Eu vou garantir que estou feliz e contando histórias que são importantes para mim, e que estou cercada de pessoas que sejam legais e artísticas e dispostas a serem estranhas. É isso que digo a mim mesma antes de ouvir “ação.” Eu fico tipo, “Seja estanha, Adria.” E mantenha-se de coração aberto. Quando tentamos alcançar a perfeição, ela sempre escorrega para longe. Apenas mantenha isso honesto e autêntico. 

 

POWELL: Uma lição para dentro e fora do set. Mantenha estranho, mantenha honesto.

 

ARJONA: Eu acho que é isso que faz a vida divertida. Não tentar ser algo que você não é. 

 

POWELL: Bem, você definitivamente não é, eu vou te dar isso. Se estou sendo honesto, você é estranha. [Ri] Uma outra coisa que percebi é que você começa a ver quais atores deixam os papeis tomarem deles e se drenam – onde os papeis retiram um pouco de suas energia, seu espírito. Eu já falei com alguns atores que literalmente tem que fazer funerais para seus personagens no final de tudo. Você tem algo assim? Porque com alguns dos personagens que interpretei, tem algumas coisas sombrias. Você gravitou para alguns personagens que cobram algo.

 

ARJONA: O que você está me perguntando? Se eu sou sombria? [Ri]

 

POWELL: Estou perguntando o que você faz para não endoidar, porque você é uma pessoas estável, e doce, que interpreta alguns papeis realmente fodidos. 

 

ARJONA: Sempre vai ser difícil, mas eu tento me cercar de pessoas que amo e confio, e que brincam comigo e são divertidas. Desde que eu esteja rindo, posso passar por qualquer situação. E eu tenho alguns pequenos rituais. Eu sempre tenho um pequeno palo santo. Eu tenho muletas de coisas que inventei para minha sorte – tipo, eu sempre começo um trabalho com uma camiseta branca, o que você me ajudou com. 

 

POWELL: Sim. Talvez no ritmo que você está indo, eu vou colocar minha conta da Amazon para entregar camisetas brancas automaticamente. 

 

ARJONA: Apenas camisetas Hanes em entrega automática. [Ri]

 

POWELL: Eu vou ter que trabalhar mais para comprar todas essas camisetas Hanes; Você é bem legal. [Ri]

 

ARJONA: Mas sim, eu acho que é só sempre estar perto da minha família. Então mesmo que eu esteja interpretando um papel sombrio, eu posso conversar com alguém que amo e ouvir sobre o dia deles, e não pensar muito sobre. 

 

POWELL: Ter uma vida familiar estável te permite ter uma válvula de escape para a pressão da realidade do outro lado. É por isso que também mantenho minha família sempre perto. Graças a Deus tivemos sorte nesse departamento. 

 

ARJONA: Eu já te disse isso antes: Somos as pessoas mais sortudas do mundo por termos o apoio que temos. Não são muitas pessoas nessa indústria que tem isso. Estamos constantemente assumindo riscos e nos colocando vulneráveis para críticas e também elogios, para positividade e negatividade, e é muito confuso. Então eu fico tipo, “Tudo o que quero fazer é fazer a minha mãe rir,” e então parece um pouco mais seguro.

 

POWELL: Sua mãe está inacreditavelmente orgulhosa de você, mas sou o segundo na fila. Bem, eu vou deixar você ir para o aeroporto, porque sei que precisa voar.   

 

ARJONA: Não, você é tão mais importante. 

 

POWELL: Sai daqui. 

 

ARJONA: Eu já perdi meu voo, está tudo bem. [Ri]

 

POWELL: [Ri] Eu vou parar de falar. Isso foi muito divertido, Adria. Eu pude ver Rick [Linklater] no final de semana, e falamos sobre você e a experiência [em Hit Man], e eu mal posso esperar para trabalhar com você de novo. 

 

ARJONA: Eu tenho uma ideia. Vou te ligar sobre. 

 

POWELL: Sim. Esse provavelmente não é o melhor lugar para discutir ideias. 

 

ARJONA: Você me conhece muito bem, onde eu faria isso e contaria para o mundo todo. [Ri]

 

POWELL: [Ri] Tudo bem, boa viagem. Eu sinto sua falta e eu te amo. 

 

ARJONA: Arrase aí em Londres. Eu sinto sua falta e te envio todo o meu amor. 

 

POWELL: Sim, senhora. 

 

Texto original em inglês.